quarta-feira, 20 de janeiro de 2010


OS FILHOS DO MUNDO

Por - Júlia Maria de Borba
Eu queria ser um deles. Não precisava ser os dois, apenas um, mas com qualidade no plural como eles.
Gostaria de arrumar minha bagagem, com poucas roupas, mas com muita coragem e determinação...
Desejaria como as aves migratórias, viajar para onde a estação estiver chamando, pegar o mapa do mundo e dizer: É pra lá que eu vou!!!
Queria poder andar pelo vento, sentir a chuva, a poeira da estrada, o sol.
Gostaria de me despedir dos laços fraternos que me prendem nesta vida que levo, dar adeus a minha conta bancária, ao meu cartão ponto e esquecer a minha cama confortável e o meu chuveiro quentinho...
Queria me despir das regras, do salto alto, das etiquetas e dos compromissos....
Ó vida! Quanto mundo, quantas terras, quantas gentes existem fora da minha cela...
Gostaria de me despedir também do relógio, este inimigo voraz que pulsa ininterruptamente dentro de mim, dentro da cabeça de tanta gente.
Parece utopia querer ser assim, um ser simples e mágico, diferente, desligado do materialismo que nos consome...Porém não é impossível...
Hoje senti meu coração bater mais forte e ele me dizia: ainda podes ser livre assim como estes dois garotos lindos, com cabelos compridos e cacheados, olhar hipnotizante e voz suave que transmitem a paz.
Assim, em harmonia com a vida, são os seres Thomas Bisinger e Ricardo Casarini. Os dois, que são fotógrafos, montaram o projeto “O Sul do Mundo”, um filminho de aproximadamente 10 minutos feito apenas de imagens do Sul da África e da América.

Um pegou carona num veleiro ruma à África, o outro, junto a um grupo de Hare Christna chegou no Chile.
Thomas percorreu alguns caminhos da África onde captou belas paisagens naturais e as expressões de um povo sofrido.
Ricardo visitou o Sul da América, clicou os costumes, as crenças e a garra de um povo que luta pela igualdade. Viu e registrou de perto os rostos excluídos e maltratados pela própria vida.
Diferente das imagens que estamos acostumados a assistir pela grande mídia, eles nos mostram, como estes povos, tão distantes, possuem fortes semelhanças, até mesmo aos nossos problemas.
Impressiona como as pessoas fotografadas na África são mais sorridentes do que os latinos, conhecidos como gente festeira. Thomas também ficou surpreso com a alegria dos africanos e disse “o sorriso deles, vem de dentro”.
Para Ricardo, os latinos são mais guerreiros, revoltados com a situação política e social do país em que vivem, “eles realmente lutam por seus direitos”, declarou. É incrível constatar que continentes distintos entre si possuam o mesmo problema: a desigualdade social.
Com a mostra deste fabuloso projeto, percebi que o jornalista não é só aquele que “engomadinho” coloca-se em frente às câmeras e faz pose de estrela. Jornalista não é só aquele que faz um lide perfeito num jornal, mas é aquele que com muita sensibilidade escreve uma bela matéria sobre o olhar oprimido do próximo. Jornalista é aquele que transforma valores, preconceitos, palavras, sons e imagens em ensinamentos e aprendizados.

Os meninos encantando a platéia com suas histórias...
Com tudo isto que vi e que talvez um dia eu possa praticar também, desejo do fundo do coração que o Thomas e o Ricardo consigam seguir viagem pela longa estrada da vida, registrando mais e outros olhares, sentimentos, paisagens e iluminando o horizonte daqueles que o assistem.
Todos àqueles que esqueceram como é o cheiro da terra molhada, o gostinho do banho tomado no rio, o frescor da cachoeira e não lembram que a vida não se resume a posses e bens... Para estes que não sabem como é a forma da liberdade, aquela que transforma, indico O Sul do Mundo, de Ricardo Casarini e Thomas Bisinger...Deixe a vida te levar!!!

Júlia Maria de Borba

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